O oásis secou...
Na microrregião chamada de oásis, seca veio violenta e está matando o gado
O Agreste é todo Sertão. O caminho
para Garanhuns é todo lamento. A seca massacra até a microrregião
propalada como oásis, a 850 metros de altitude, pródiga em floricultura e
com uma bacia leiteira que representa metade da produção do Estado. Nem
a Suíça pernambucana aguentou a estiagem. O cenário que, no início da
semana, a reportagem encontrou no percurso para Pesqueira, no Vale do
Ipojuca, foi o mesmo flagrado na última quinta-feira (28) em São
Caetano, Cachoeirinha, Lajedo e Garanhuns. A chuva não cai há mais de
ano, o gado está morrendo e os agricultores não sabem mais o que fazer.
De acordo com a Coordenadoria de Defesa Civil de Pernambuco (Codecipe),
64 das 71 cidades do Agreste já decretaram situação de emergência. Em
todo o Estado, mais de 1,3 milhão de pessoas são afetadas pela seca,
segundo o último balanço, divulgado na sexta-feira (1º).
Na altura de Cachoeirinha, distante 169
quilômetros do Recife, às margens da BR-423, a imagem espanta. Uma
cabeça de boi, só a ossada, está dependurada em um cacto. Simboliza a
morte, a penúria, a desesperança. É como se avisasse que, mata adentro,
seria daí para pior. “Ave Maria, a seca é grande demais”, resume o
agricultor João Simões de Morais, 57 anos. “Ela já chegou. Aqui é quase
Sertão”, sentencia. Morador do Sítio Ouricuri, na zona rural do
município, João Simões diz que é difícil encontrar água e que as vacas,
esquálidas, quase não dão mais leite. “O verão está pesado. Água não
tem, ração para o gado não tem. Ninguém faz mais queijo porque não tem
leite”, relata.
Cachoeirinha tem 3.415 pessoas afetadas
pela estiagem, quase um quinto da população da cidade. O trabalhador
rural Daniel Paz de Souza, 67, é uma delas. Perto do local por onde ele
passa, no Sítio Ouricuri, são mais de 20 carcaças de animais, entre
bois, vacas, bezerros, bodes e ovelhas. Algumas recentes e outras,
espalhadas há mais tempo. A estiagem é tanta que até a palma, que
alimenta bicho e gente, via de regra resistente à escassez de chuvas,
secou. “A situação está difícil. Não tem água nem nada para o gado
comer. O açude está quase seco. A gente alimenta com palma e farelo,
para o bicho não cair. Moro aqui há 28 anos e nunca vi uma seca assim”,
desabafa.
A realidade no Sítio Ubaia não é
diferente. Diante do mar de poeira, a carroça de Everaldo Ferreira da
Silva, 28, desponta. Desvia dos restos de gado. Franzindo os olhos por
causa do sol que não dá sossego, ele e a mulher carregam três tonéis
d’água. “É muita seca. O pessoal não quer vender os animais, mas não tem
condições de criar, e os bichos morrem de fome e sede. Isso é um
crime”, dispara. Ao menos por enquanto, seu rebanho resiste. “Mas está
começando a faltar água. Se o verão apertar, eles não aguentam”,
confessa.
Garanhuns padece do mesmo problema. De
clima mesotérmico, com temperatura média anual de 20 graus e conhecida
como a Suíça pernambucana, a Cidade das Flores virou outra. Desbotou.
São cerca de 14 mil pessoas afetadas, nas contas da Secretaria Municipal
de Agricultura, Abastecimento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos.
A Floricultura Flores de Abril tem seu
pior faturamento em 35 anos. As vendas caíram pela metade. Proprietária
do estabelecimento e há 70 anos vivendo em Garanhuns, Edelzia Notaro,
80, nunca viu seca assim. Jamais achou que a estiagem fosse bater lá. “O
rapaz sempre trazia de oito a 10 pacotes de flores por semana. Agora,
só traz quatro. A gente está tendo que mandar buscar em Gravatá porque
aqui não tem mais”, lamenta.
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