Ônibus
foi queimado por passageiros no Terminal do Barro, na Zona Oeste do
Recife, durante greve dos motoristas (Foto: José Joaquim/Acervo pessoal).
Usuários disputaram espaço em coletivos em pontos e no TI Joana Bezerra.
Primeiro dia de paralisação deixou veículos parados desde início da manhã.
Impacientes
com a espera, alguns passageiros tentaram subir em ônibus antes do
desembarque dos demais usuários (Foto: Vitor Tavares/G1).
Com greve de ônibus, passageiros do Grande Recife enfrentaram longa
espera nas paradas e no Terminal Integrado da Joana Bezerra, na área
central da capital, na volta para casa. Na noite desta segunda (28),
primeiro dia de paralisação, a reportagem encontrou coletivos parados no
Joana Bezerra e usuários disputando espaço nos poucos veículos que
chegavam ao terminal. Impacientes com a espera, alguns passageiros
tentaram subir em ônibus antes do desembarque dos demais usuários,
criando um tumulto. Apesar da greve, o terminal estava esvaziado, com
número de passageiros abaixo do esperado para o horário.
Cansados de esperar, alguns passageiros resolveram se sentar nos
pontos. A maioria reclama dos coletivos que vão para a área norte do
Grande Recife, como Olinda. "O ritmo aqui está parecendo de fim de
semana, com menos ônibus e com o terminal mais tranquilo", destacou a
barista Giuliane Jennef, que trabalha em Boa Viagem (Zona Sul da
capital) e mora em Sítio Novo. Segundo ela, a espera já ultrapassa meia
hora, quando o normal é de no máximo 15 minutos, para as duas linhas que
seguem para Jardim Brasil (bairro de Olinda).
Maria de Lourdes acredita que as pessoas se anteciparam aos problemas ou não conseguiram ir ao trabalho,deixando os pontos e terminais esvaziados à noite.
(Foto: Vitor Tavares/G1).
A cozinheira Maria de Lurdes Alves achou o TI Joana Bezerra mais vazio
que o normal. "Todo dia é uma loucura, hoje eu vou esperar mais, só que
está até mais vazio que o normal", contou. Ela mora em Águas Compridas,
Olinda, e trabalha em Boa Viagem. Durante a manhã, ela gastou quase 4
horas no percurso, devido ao protesto na PE-15. Ela acredita que, por
conta da tumultuada manhã, as pessoas se anteciparam aos problemas ou
não conseguiram ir ao trabalho, deixando os pontos e terminais
esvaziados à noite.
Nos principais corredores da capital, a longa espera também era queixa
dos usuários. A atendente de loja Sirlane Silva aguardava ônibus na
Avenida Agamenon Magalhães para ir para à Zona Sul. Ela largou mais cedo
do trabalho, assim como outros colegas, para chegar sem problemas em
casa. "Os ônibus estão passando vazios, acho que porque muita gente já
deu um jeito de ir pra casa, por conta dos problemas da manhã", avaliou.
Na região da Avenida Cruz Cabugá, em Santo Amaro, área central do
Recife, os passageiros usaram a estratégia de pegar o ônibus no sentido
contrário, para tentar garantir um assento livre. A operadora de
telemarketing Midiam Barbosa, que mora em Igarassu, na Região
Metropolitana, estava esperando um coletivo em direção ao Centro. "Em
dia normal, já é ruim, com greve então... Já estamos aqui há 20 minutos e
ele ainda não passou", comentou. Midiam disse ainda que preferiu largar
mais cedo nesta segunda, para evitar maiores transtornos.
Reportagem viu coletivos parados e pontos vazios, com movimento atípico na noite desta segunda (Foto: Vitor Tavares/G1).
Na Avenida Cruz Cabugá, entretanto, o movimento dos coletivos era
tranquilo e as paradas apresentavam volume normal de usuários. "Eles
[os ônibus] estão passando um pouco mais cheio, mas nada fora do normal.
É sempre assim", disse Adriana Conceição, analista de RH que aguardava
um veículo para Rio Doce, em Olinda.
Na Avenida Conde da Boa Vista, passageiros enfrentaram dificuldades. A
cuidadora Sonia Rodrigues, moradora de Santa Luzia, Zona Oeste do
Recife, disse que esperava o ônibus há quase uma hora e meia. "Já estou
pensando em pegar o metrô, dar um jeito diferente de chegar em casa. Do
jeito que está, é impossível", comentou. Em dias normais, ela comentou
que a espera por um ônibus da linha Vila Dois Carneiros é de 20 minutos,
no máximo.
A jornalista Julia Magnoni teve que ir andando do Mercado da Boa Vista
até a Praça do Derby para tentar pegar um ônibus para Camaragibe, na
Região Metropolitana. Ela disse que os coletivos estavam muito lotados e
passando com pouca frequência na Conde da Boa Vista. "Eu vim de carona
para o Centro, mas agora vou voltar de ônibus, e ainda pegar outro na
Praça de Camaragibe para ir à Aldeia", contou. Apesar do transtorno, a
jornalista afirma apoiar o movimento. "Todos têm que lutar pelos seus
direitos".
UFPE suspende aulas nesta terça (29).
Em nota divulgada no fim da noite desta segunda (28), a Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE) informou que as aulas desta terça (29), no
campus Recife, também estão suspensas devido à paralisação dos
rodoviários. "A decisão foi tomada devido à manutenção da greve que
afeta o transporte coletivo na Região Metropolitana do Recife,
dificultando o acesso de estudantes e servidores ao campus. Enquanto
perdurar a paralisação, a Reitoria fará avaliações diárias sobre a
realização das aulas".
Jornalista
Julia Magnoni teve que ir andando do Mercado da Boa Vista até a Praça
do Derby para tentar pegar um ônibus para Camaragibe, na Região
Metropolitana (Foto: Vitor Tavares/G1).
Ônibus parados
O Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários Urbanos da Região
Metropolitana do Recife, em coletiva de imprensa realizada nesta
segunda, informou que a categoria tentou, desde o início da manhã, cumprir a determinação do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), colocando 100% dos ônibus nas ruas em horário de pico.
O Sindicato creditou o percentual de 75% da frota em circulação, número
divulgado pelas empresas de ônibus, às próprias companhias, que teriam
impedido os grevistas de trabalhar, reduzindo o número de veículos que
saíam das garagens e contratando motoristas e cobradores terceirizados.
Procurado pelo G1, o Urbana-PE, entidade que representa
os donos das empresas de ônibus, informou que está elaborando nota
oficial sobre a denúncia.
Em nota oficial divulgada no começo da noite, o Sindicato das Empresas
de Transportes de Passageiros no Estado de Pernambuco (Urbana-PE) afirma
que, junto com suas associadas, "estão se empenhando para minimizar os
transtornos que a greve deflagrada pelos rodoviários causa à população.
O
sindicato espera restabelecer no menor prazo possível a normalidade do
serviço de transporte público por ônibus". A entidade disse também que,
no final da tarde, a média de ônibus em operação foi de 57% da frota.
O Tribunal Regional do Trabalho marcou para a tarde desta terça (29) a
audiência de conciliação entre as partes. Em seguida, terá início a
sessão que vai julgar o dissídio coletivo. O Urbana-PE informou que
pediu à Justiça que a greve seja considerada abusiva.
Passageiros aguardam ônibus no Terminal de Joana Bezerra (Foto: Everaldo Silva/TV Globo)
O porquê da greve
Motoristas, cobradores e fiscais de ônibus decidiram cruzar os braços
em assembleia realizada no dia 23. Eles aprovaram indicativo de greve e
comunicaram a decisão ao Ministério Público do Trabalho (MPT). A
categoria não aceita a proposta de reajuste de 5% nos salários e no
tíquete-refeição, feita pelo Urbana-PE. Eles querem aumento de 10%,
proposto pelo MPT, e elevação no valor do tíquete-refeição de R$ 171
para R$ 320.
A greve deve afetar a vida de cerca de 2 milhões de passageiros que
utilizam o transporte diariamente na Região Metropolitana. Atualmente, o
sistema conta com aproximadamente 3 mil veículos integrando a frota,
distribuídos em 385 linhas e 18 empresas operadoras de ônibus. São
feitas, em média, 25 mil viagens por dia. O sistema conta também com
mais de 15 terminais integrados.
Dia de trânsito, confusão e muitas filas
O transtorno para os passageiros começou logo cedo. Os terminais de
Joana Bezerra, um dos principais do Recife, e da Macaxeira, além de
diversas paradas de ônibus ao longo da rodovia PE-15 ficaram lotadas de passageiros,
que reclamavam da demora dos coletivos. Na PE-15, no bairro de
Salgadinho, Olinda, os passageiros fecharam a rodovia depois que um
grevista baixou o pneu do ônibus em que eles estavam. Um passageiro
chegou a ser detido, acusado de quebrar os vidros de um coletivo. Ele
pagou fiança e assinou um termo circunstanciado de ocorrência, para
responder em liberdade por dano qualificado. Em Jaboatão, muitos passageiros enfrentaram dificuldades para conseguir pegar ônibus, que passavam em número menor que a demanda.
Durante a manhã, mais de 20 ônibus pararam em fila na Avenida Mascerenhas de Morais, Zona Sul do Recife, e obrigaram os passageiros a saltar,
uma vez que não seguiriam viagem. O primeiro dos veículos a parar,
embaixo do Viaduto Tancredo Neves, seguia para o Terminal de Integração,
por volta das 7h40. Houve passageiros que chegaram a discutir com os
motoristas dos ônibus e os cobradores, pedindo de volta o dinheiro da
passagem, já que não conseguiram seguir até o destino final.
Outro ponto do Recife em que os ônibus foram deixados parados foi a
Avenida Mário Melo, em Santo Amaro. Em Olinda, alguns motoristas de
ônibus abandonaram os veículos próximo ao giradouro do Complexo de
Salgadinho. Com o protesto, o trânsito ficou parado
e bastante congestionado, com repercussão na Avenida Presidente
Kennedy, na Rua Joaquim Nabuco e demais vias para quem tentava seguir
para o bairro do Varadouro.
Em função desses bloqueios, foi necessário que a Companhia de Trânsito e
Transporte Urbano (CTTU) montasse pontos estratégicos de apoio na
capital, para evitar transtornos no trânsito. Por causa dos protestos
dos passageiros, os terminais de Xambá, Macaxeira e Barro foram fechados
durante a manhã, conforme o Grande Recife Consórcio de Transporte, mas todos já tinham sido reabertos no começo da tarde.
Usuários obrigados a descer na altura do Terminal Integrado Tancredo Neves (Foto: Katherine Coutinho / G1).
Pelo menos quatro ônibus foram danificados nesta manhã,
no Terminal do Barro, na Zona Oeste da capital, e um deles sofreu um
princípio de incêndio, que foi controlado pelos funcionários do
terminal. Segundo policiais militares do 2º Batalhão da Polícia Militar,
os funcionários do terminal conseguiram apagar as chamas do ônibus
incendiado, que atingiram uma parte pequena do coletivo. Os outros
veículos tiveram os vidros de algumas janelas quebrados. Também houve
registros de confusão no Terminal Integrado de Xambá, em Olinda, no
Grande Recife.
Para os usuários do serviço público de transporte, o metrô pode
funcionar como uma alternativa. A CBTU informa que, nesta segundo, 14
trens estão operando na linha Centro e oito na linha Sul. Além desses,
há quatro trens a mais para ajudar, se necessário; eles serão
responsáveis por 40 viagens a mais, na ida, e 40, na volta. No fim do
dia, serão 80 viagens a mais.
Aulas e serviços suspensos
O Campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) suspendeu as
aulas desta segunda-feira (28), em função da greve dos rodoviários. A
partir do meio-dia, as aulas de todos os cursos do campus serão
canceladas. A reitoria da universidade vai fazer avaliações diárias
sobre a manutenção das aulas, de acordo com a movimentação grevista.
O Detran também fez alterações no atendimento no Grande Recife. Quem
não puder comparecer aos postos para fazer o exame prático e teórico não
vai ser prejudicado e pode remarcar o teste gratuitamente. Segundo o
Detran, os exames serão cancelados automaticamente no final do dia e não
será registrada falta do candidato.
A remarcação do exame teórico deve ser feita no site do Detran. Já a do
exame prático é feita no Centro de Formação de Condutores em que o
candidato se inscreveu anteriormente para as aulas teóricas e práticas.
Do G1 PE.