O desfecho do lance foi violento e Battiston precisou sair do campo, de maca, no Estádio Ramón Sánchez Pizjuán, em Sevilha - AFP.
Se o Uruguai é o fantasma dos brasileiros
por vencer uma Copa do Mundo em cima da Seleção Brasileira, em pleno
Maracanã, em 1950, o mesmo pode ser dito da Alemanha em relação à
França. Isso porque os alemães mandaram duas vezes de volta para a casa
uma geração francesa fortíssima, protagonizada por jogadores como
Platini, Giresse, Tigana e Bats. Uma safra de talentos que era a
esperança de um povo para levar a França ao topo do futebol.
O
retrospecto geral dos confrontos entre os dois países europeus mostra
outra situação: a superioridade francesa. Foram 25 duelos, com 11
vitórias para os “Bleus”, seis empates e oito triunfos bávaros. No
entanto, a Copa
do Mundo é responsável pelas partidas mais importantes e memoráveis e
quando se fala de França e Alemanha no plano futebol, as imagens
resgatadas pelos apaixonados pelo esporte são as das derrotas para o
alemães nas semifinais de 1982, na Espanha, e 1986, no México.
Aquela
geração francesa dos anos 80 representava o único futebol arte jogado
na Europa e era considerada por muitos, inclusive por Pelé, como a
favorita a chegar na final do Mundial
na Espanha: “Seria uma bela final contra o Brasil”, disse o Rei do
Futebol. A imprensa que cobria aquela Copa também rasgava elogios à
equipe de Platini e companhia. “O Brasil europeu”, “O melhor futebol do
mundo” e “França e Brasil, a final sonhada”, noticiou o jornal A Gazeta Esportiva, na edição de sete de julho de 1982, um dia antes do jogo da semifinal entre França e Alemanha.
Espanha, 1982
Nas
imediações do hotel onde os franceses estavam hospedados, em
Navacerrada (ESP), os jornalistas estavam de acordo quando o assunto era
favoritismo francês. Os “Bleus” eram vistos como donos de uma técnica
mais refinada, enquanto os alemães eram pragmáticos e mais fortes
fisicamente. A Gazeta Esportiva sintetizou bem o quadro daquele embate no dia da decisão: “França x Alemanha, a técnica contra a força”.
No
entanto, o que se viu naquele oito de julho de 1982 não foi o esperado.
No tempo normal, a Alemanha foi aplicada taticamente e segurou o empate
por 1 a 1, com Littbarski abrindo o placar para os bávaros e Platini
empatando em cobrança de pênalti. Trèsor e Giresse fizeram 3 a 1 e a
França esteve com a vaga na final nas mãos. Só que Rummenigge foi
infernal nos contra-ataques naquela tarde e ele e Fischer empataram um
jogo quase perdido na prorrogação.
Outro destaque foi o goleiro
alemão Schumacher, que antes de defender os chutes de Six e Bossis nas
cobranças de pênaltis, fez importante defesa ao sair desesperadamente
quando viu Battiston chegar livre em sua meta. O resultado do encontro
entre Battiston e Schumacher foi a perda de dois dentes do francês.
Sem o
pênalti dado, os franceses reclamam da arbitragem até hoje, já que um
gol naquelas alturas - o jogo estava empatado em 1 a 1 - poderia decidir
o confronto para os "Bleus". A Alemanha foi à final, mas acabou
derrotada, por 3 a 1, pela Itália de Rossi.
Battiston ficou cara a cara com Schumacher, que não deixou o defensor francês passar nas semifinais de 1982 - AFP.
México, 1986
Quatro
anos depois, no México, o contexto não era tão diferente. Os “Bleus”,
com um futebol mais vistoso, eram favoritos para fazer a final com a
Argentina embalada por Maradona. Platini vs Rummenigge era um duelo
visto com “ar de vingança” para os franceses. Os dois possíveis protagonistas
desse novo duelo não foram as estrelas do jogo, que foi protagonizado
por Brehme e Voeller. Os dois primeiros foram os autores dos gols da
vitória bávara por 2 a 0.
Joël Bats, o goleiro francês
que foi um paredão contra o Brasil nas quartas de final, foi o “Bode
expiatório” daquela derrota, já que falhou grotescamente no gol de
Brehme, logo aos dez minutos da primeira etapa. O lance não saiu da
cabeça do autor daquele gol até hoje, que descreve bem o ocorrido:
“Ainda me lembro bem disso. Foi uma cobrança de falta à direita da área.
Felix Magath ajeitou a bola para mim e o meu chute foi no ângulo
direito. O goleiro francês (Bats) não pareceu muito contente naquele
momento”, disse Brehme, em entrevista ao site da Fifa.
Foi mais um triunfo da rigidez tática alemã sobre o talento técnico francês, como noticiou A Gazeta Esportiva
do dia 26 de junho de 1986: “E a escola do futebol- arte está fora da
Copa”.
Os bávaros cairiam em mais uma decisão de Copa do Mundo, desta
vez, para a Argentina de Maradona.
Rio de Janeiro (RJ) - GAZETA ESPORTIVA.
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