Economista Maurício Romão considera o projeto de emancipações "um retrocesso".
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Especialistas e ex-gestores reforçam os argumentos contrários ao projeto que flexibiliza a criação de novas cidades, em tramitação no Congresso, temendo prejuízo.
O projeto de lei que tramita
no Congresso Nacional e devolve às Assembleias Legislativas o poder de
deliberar sobre as emancipações de municípios encontra resistência em
especialistas e gestores. Uma das alternativas apontadas por eles para
melhorar a qualidade de vida nas cidades e distritos é a criação de
consórcios. O economista Maurício Romão fez um estudo, divulgado esta
semana, em torno do distrito de Curral Novo, alvo de uma proposta para
ser desmembrado de Águas Belas, no Agreste de Pernambuco.
O levantamento mostra que o município
ocupa a 5.027º posição no ranking formado por 5.565 cidades brasileiras
com o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), segundo dados
do ano passado. Além disso, segundo informações da Agência Condepe/Fidem
de 2011, Águas Belas tem uma receita corrente de R$ 52 milhões, sendo
R$ 1,5 milhão arrecadação tributária. Ou seja, a cidade possui apenas
2,9% de geração de receita própria.
“Sendo o distrito mais pobre que a sede,
e se a sede já sobrevive capengando, como é que o distrito vai
manter-se, autonomamente, desmembrado da sede?”, questiona, no estudo.
Em entrevista à rádio JC/CBN Recife, nessa quinta-feira, Romão classificou o projeto de lei como um “retrocesso”. “É criar miséria em cima de miséria”, opinou.
No mesmo debate, o cientista político
Adriano Oliveira apontou incoerência na matéria, se for observada a Lei
de Responsabilidade Fiscal. "Há um movimento de prefeitos cobrando mais
verbas. Se você está em busca de mais recursos, qual a razão de mais
municípios serem criados? Devemos aprender a governar a partir de duas
questões: gestão e definição de prioridades", argumentou.
O ex-governador Joaquim Francisco,
também na contramão do projeto, defendeu que cidades fossem fundidas, e
não separadas. Outra alternativa apresentada por ele foi a criação e
fortalecimento de consórcios entre municípios da mesma região.
"Uma cidade especializaria seu hospital
em pediatria e a outra em ortopedia, por exemplo. Hoje, ficam 22
hospitais fazendo tudo e fazendo nada. Consórcio é uma ideia
moderníssima", destacou, lembrando que São Paulo engloba mais de 80
consórcios. Pernambuco possui grupos de cidades, como o Pacto
Metropolitano - formado pelos municípios do Grande Recife e Goiana, na
Zona da Mata Norte -, mas nunca tiveram um papel de destaque.
Esta semana, o governador Eduardo Campos
(PSB) abordou com cautela o assunto, criticando a eleitoralização da
discussão, e apontou que, por vezes, a população é iludida com a
proposta de mudar de vida apenas com a criação de uma nova cidade.
A matéria foi aprovada na Câmara dos
Deputados, por 319 votos a favor e 32 contra, e, agora, precisará passar
pelo Senado antes de seguir para sanção presidencial.
Do JC Política.
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