'Ele tratava ainda melhor o miserável, como eu', diz aposentada de 87 anos.
Velório aberto ao público acontece durante a tarde na Alepe.
Fernando
Lyra viabilizou o sonho de Eduardo Sandro de desfilar na parada militar
de 7 de setembro no dia em que comprou uma caneta do rapaz, que é
aposentado por invalidez (Foto: Priscila Miranda/G1).
Um grande número de pessoas passa pela Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), no Recife,
na tarde dessa sexta-feira (15), para prestar uma última homenagem ao
ex-ministro da Justiça Fernando Lyra, que morreu na quinta-feira (14),
de falência múltipla de órgãos, no Instituto do Coração (Incor), em São
Paulo. Além da família e de políticos, admiradores do ex-ministro
compareceram ao local.
Aos 87 anos, a aposentada Noemia Severina da Silva mal acreditou quando
soube da notícia. "Ele deixa saudade e muita, quem perde é o Brasil.
Ele era uma dessas pessoas que você batia à porta a qualquer hora e ele
estava sempre pronto para receber. Não fazia diferença entre rico e
pobre, tratava ainda melhor o miserável, como eu. Precisava trabalhar,
mas nunca tive a carteira assinada. Ele arrumou um emprego para mim",
recorda Noemia.
Militantes de Caruaru, no Agreste de Pernambuco, Anunciada França e
Elza Santos fizeram campanha na adolescência para Fernando Lyra.
"Caruaru perdeu seu filho mais querido. Eu me recordo de, ainda criança,
ele sempre abrir os comícios dizendo 'homens, mulheres e crianças'.
Devemos a ele o fim da censura no país também", afirma Elza, que ostenta
um broche antigo que guardou dos tempos de campanha. "Ele tinha o
costume de abraçar todo mundo antes de falar. Estar aqui hoje é uma
forma de gratidão por tudo que ele fez por Caruaru e por Pernambuco",
diz Anunciada.
Noemia Severina da Silva diz que Lyra conseguiu empregopara ela (Foto: Katherine Coutinho/G1)
O professor Jaime Medeiros da Silva costumava ouvir, desde os 13 anos,
os discursos do antigo MDB [Movimento Democrático Brasileiro, do qual
Lyra foi um dos fundadores] em Beberibe. "Eu era menino ainda. Ele era
um dos mais ardentes defensores da liberdade. Era um discurso que tinha
conscistência, conteúdo. Na época, eu temia inclusive pela vida dele,
que era um homem muito combatente, muito ferrenho", recorda o professor.
As recordações do advogado André Felipe Costa são mais recentes, do
período da redemocratização. "Eu tinha cinco, seis anos. Lembro de ele
dando entrevista no Bom Dia Brasil, muito seguro de si. Ele é um exemplo
fiel e contumaz da defesa da causa pública, fazia do parlamento um bom
uso. Como jovem entusiasta da política, espero que os jovens se inspirem
no exemplo de ética que era Fernando Lyra, que deixa um vácuo muito
grande na nossa vida política", acredita Costa.
Aposentado por invalidez, Eduardo Sandro do Nascimento lembra de ter
visto Fernado Lyra pela primeira vez na televisão e o primeiro encontro
pessoalmente foi em meados de 2006, em frente ao Hospital da
Restauração, onde vende canetas. "Ele comprou uma caneta de mim e
começou conversar. Disse a ele que tinha o sonho de ver Eduardo Campos e
desfilar no 7 de setembro. Dei meu telefone e, pouco tempo depois, um
oficial de Justiça me ligou para eu desfilar. Desde então, saio todos os
anos. Eu não tenho palavras para descrever o que Fernando Lyra
significa para mim, mas com certeza só coisas boas", diz Nascimento.
Histórico
O ex-ministro foi internado no dia 29 de dezembro de 2012, no Real Hospital Português, no Recife, com infecção urinária e problemas cardíacos. Ele foi transferido no dia 5 de janeiro para o Incor, em São Paulo. Fernando Lyra havia saído da UTI do Incor no dia 9 de janeiro, após a infecção urinária ser tratada, mas voltou em menos de 48 horas para a unidade de cuidados intensivos. Na época, João Lyra Neto informou que o coração do ex-ministro estava funcionando com 30% da capacidade. Outro ponto que preocupava a equipe médica era a retenção de líquido, que resultava em aumento de peso e mais dificuldade para a função cardíaca.
Fernando Lyra foi ex-deputado federal e um dos articuladores do nome de
Tancredo Neves como candidato à Presidência da República, através do
voto indireto no colégio eleitoral, em 1985. Com a morte do mineiro e a
posse de Sarney como presidente, foi mantido no governo, como ministro
da Justiça, por pouco mais de um ano.
Ultimamente, Fernando Lyra estava fora da vida pública e vivia ao lado
da família, no bairro de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, na Região
Metropolitana do Recife. Ele deixou esposa e três filhas.
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