Apevisa divulgou, nesta terça, o resultado das investigações no Instituto Visão.
Relatório confirma que vítimas apresentaram complicações no pós-operatório.
A Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa) anunciou nesta
terça-feira (8) o resultado das investigações sobre a clínica onde
quatro mulheres perderam a visão, no final de março, após cirurgias para
a retirada de catarata, no município de Caruaru, no Agreste de
Pernambuco. O relatório confirma que as mulheres apresentaram
complicações no pós-operatório devido a uma inflamação aguda no globo
ocular de origem bacteriana.
O resultado da inspeção da clínica listou 54 irregularidades envolvendo
todos os setores do Instituto Visão de Pernambuco, em Caruaru, mas três
fatores foram destacados como os principais: inadequada estrutura
física, irregularidades no processo de esterilização de materiais e
instrumentais cirúrgicos e a contaminação da água utilizada. "Não tem um
fator único, temos três fatores importantes, todos eles podem ter
causado. A primeira coisa foi a estrutura física, que foi deficiente.
Outro fator, que talvez seja o mais importante, é a questão da
esterilização, os materiais utilizados eram de uso doméstico, não de
hospital, não tinham um padrão de verificação de esterilização, fora a
água que tinha contaminação", explica Jaime Brito, diretor geral da
Apevisa.
O relatório será encaminhado para a Polícia Civil, Ministério Público
de Pernambuco, Vigilância Sanitária de Caruaru e possíveis instâncias
judiciais, caso os familiares queiram levar o caso à Justiça. "Eles já
nos procuraram com o interesse de reabrir. Eles precisam nos entregar um
cronograma de correções e começar a corrigir todos os problemas que
encontramos. Quando a clínica tiver condições mínimas de funcionamento,
poderão reabrir", conta Jaime.
Todos os procedimentos padrão da agência foram utilizados durante as
investigações. "As estratégias que foram usadas são as comuns em casos
de surto ou evento adverso. Pegamos os prontuários, verificamos o
relatório da inspeção sanitária, entrevistamos os médicos tanto de
Caruaru quanto do Recife, os funcionários do hospital, os pacientes. E
então, começou uma busca de alguns fatores que fossem importantes nessa
investigação, principalmente as amostras laboratoriais", detalha o
diretor.
A clínica teve 15 dias para se defender. A Apevisa vai analisar a
defesa para poder então decidir sobre as medidas punitivas a serem
tomadas, que implicam desde uma advertência até a interdição definitiva
da clínica, mais multa de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão. "A punição independe
deles terem corrigido os problemas. Possibilidade de reabrir não tem
nada a ver com o processo, eles podem reabrir e serem condenados", avisa
Brito.
As quatro mulheres foram submetidas à operação de catarata no dia 28 de
março, no Instituto da Visão de Pernambuco. Após o procedimento, elas
apresentaram um quadro grave de infecção, provavelmente devido uma
bactéria. Por conta disso, as mulheres foram encaminhadas para o
Hospital de Olhos de Pernambuco, no Recife.
De acordo com a unidade da capital pernambucana, as pacientes chegaram
em estado grave e a equipe não conseguiu recuperar a visão delas. O
quadro é irreversível. No total, 15 pessoas trabalharam durante17 horas
para tentar reverter a situação, mas sem sucesso. "Avaliamos item a item
todos os procedimentos que ocorreram com esses pacientes desde a hora
da chegada deles no hospital em Caruaru até a saída do hospital aqui no
Recife. Nós podemos punir a clínica, aos profissionais cabem o inquérito
criminal da polícia e o ético ao devido conselho", lembra.
O bloco cirúrgico do Instituto da Visão de Pernambuco foi interditado
pela Vigilância Sanitária do município no dia 30 de março. "Essa
interdição preventiva tem duração de 90 dias. Além disso, eles serão
autuados devido às irregularidades sanitárias encontradas. As quatro
amostras de água que coletamos no bloco cirúrgico, por exemplo, estavam
contaminadas", detallha.
Os responsáveis pela clínica foram procurados pela equipe do G1, mas até o momento da publicação desta reportagem eles não foram encontrados para comentar o assunto.
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