A Holanda pareceu ter todos os santos da Bahia a seu favor nesta sexta-feira 13, dia estigmatizado pela crendice popular. Com a torcida
local reforçando a marcação ao atacante Diego Costa, o time dirigido
por Louis van Gaal estreou na Copa do Mundo do Brasil com uma vitória
por 5 a 1 sobre a atual campeã Espanha, de virada, e exorcizou o
fantasma da derrota para a mesma adversária no último Mundial.
Desde
o princípio da reedição da final de 2010, a Holanda contou com um
reforço na sua marcação sobre Diego Costa, que não recebeu perdão do
público da Arena Fonte Nova por ter escolhido a Espanha para defender.
Ainda assim, foi o brasileiro quem sofreu o pênalti convertido por Xabi
Alonso aos 26 minutos do primeiro tempo. Pouco antes do intervalo, Robin
van Persie igualou o placar com uma bela cabeçada.
Na etapa
complementar, a Holanda deixou completamente de lado a Espanha e
qualquer assombração que estivesse em seu caminho na capital da Bahia. O
gol salvador, que deixou a vice-campeã mundial em vantagem definitiva,
foi de Arjen Robben. Mais tarde, De Vrij, Van Persie (em grande falha do
goleiro Casillas) e novamente Robben (um golaço) acabaram com as
esperanças espanholas e transformaram a vitória em goleada.
O
primeiro resultado elástico da Copa do Mundo de 2014 deixou a Holanda
com três pontos e na liderança do grupo B, que também conta com Chile e
Austrália. Os holandeses tentarão dar sequência ao bom momento contra os
australianos, às 13 horas (de Brasília) da quarta-feira 18, no Beira
Rio. No mesmo dia, mas às 16 horas, os espanhóis buscarão a reação
contra os chilenos, no Maracanã.
O jogo – A torcida brasileira presente na Arena Fonte Nova se dividiu no apoio
para Espanha e Holanda e se uniu contra Diego Costa. O atacante foi
vaiado desde o momento em que a sua foto apareceu nos telões do estádio,
no anúncio das escalações das duas equipes. Bem marcado pelo público e
pelos holandeses, ele sofreu uma falta já no primeiro lance da partida.
Apesar
de ter mudado bastante em relação à final de quatro anos atrás, a
Holanda continuou a mostrar à Espanha que não deixaria de usar a
rispidez se fosse necessário. De Jong, marcado por desferir uma voadora
em Xabi Alonso em 2010, empolgou-se no meio-campo e usou o corpo para
derrubar Busquets. Era a falta que faltava para os espanhóis começarem a
chiar com o árbitro italiano Nicola Rizzoli.
Mas a Holanda também
jogava futebol. Nos primeiros minutos, por exemplo, pareceu ter
invertido os papéis com os espanhóis e valorizou bastante a posse de
bola. Aos sete, o carrasco brasileiro Wesley Sneijder quase abriu o
placar. O meia do Galatasaray foi lançado por Robben, que aproveitou uma
falha de Jordi Alba, e correu sozinho ao encontro de Casillas. O
goleiro fez grande defesa para evitar o primeiro gol do jogo.
Aos
poucos, no entanto, a Espanha passou a se impor e a ganhar terreno. Um
dos responsáveis pela mudança de postura foi Andrés Iniesta, o jogador
mais festejado entre os torcedores espanhóis. Dois minutos depois do
susto provocado por Sneijder, o meia do Barcelona avançou em diagonal
fora da área, observado pela marcação holandesa, e arriscou o chute. A
bola subiu demais, mas serviu para mostrar que os campeões do mundo
estavam em campo.
Até Diego Costa resolveu enfrentar as vaias. Sem
se importar com o ruído, aos 17, ele finalizou cruzado, para fora,
depois de um erro de De Guzman.
A Holanda se desestabilizou. Robben não
fez questão de disfarçar a sua irritação por receber um lançamento
longo, e não a bola no pé, de Blind. Pouco depois, o atacante se
encarregou de ele mesmo impacientar o público ao se atrapalhar para
calçar a chuteira e retardar o jogo.
A Espanha aproveitou
o melhor momento diante da Holanda para marcar o seu primeiro gol no
Mundial do Brasil. Aos 26 minutos, Diego Costa – justo ele – recebeu um
ótimo passe de Xavi dentro da área, cortou De Vrij e acabou derrubado.
Pênalti, segundo o árbitro Nicola Rizzoli. Xabi Alonso cobrou no canto,
sem se importar com os protestos do time adversário, e o goleiro
Cillesen não alcançou.Com
a vantagem no marcador, a Espanha se sentiu confortável para controlar a
partida ao seu estilo. E quase ampliou. Aos 42 minutos, Iniesta fez uma
bela enfiada de bola para David Silva, que se infiltrou no meio da
marcação holandesa e só não marcou o gol por cobertura porque Cillesen
se manteve frio para interceptar.
Quando tudo indicava
que o panorama favorável à Espanha se estenderia até o intervalo, a
Holanda mudou os rumos do jogo. Blind fez grande lançamento um minuto
após David Silva desperdiçar a sua oportunidade
de gol. Van Persie se esticou para cabecear a bola por cima de Casillas
e acertar a rede. “Oh!”, exclamou a torcida, impressionada, ao rever o
lance nos telões da Fonte Nova.
A reação holandesa teve
sequência sob garoa fina no segundo tempo. Sem nenhuma alteração de
jogadores, o time dirigido por Louis van Gaal retornou mais ativo – sem
poupar críticas contra a arbitragem – do intervalo. Aos sete minutos,
virou a partida. Blind fez um novo lançamento preciso, desta vez para
Robben. O jogador do Bayern de Munique cortou Piqué dentro da área e
bateu cruzado para ser ovacionado. A bola ainda tocou em Sergio Ramos
antes de entrar.
O gol entusiasmou definitivamente a Holanda. Aos
14, Janmaat recebeu passe de Van Persie no bico da área (em posição
irregular) e concluiu com muita força. A bola parou no travessão.
Assustado, o técnico Vicente Del Bosque decidiu proporcionar as últimas
vaias a Diego Costa e o substituiu por Fernando Torres. Tranquilo, Van
Gaal trocou o pendurado De Guzman por Wijnaldum.
As substituições
surtiram efeito. Para a Holanda. Aos 18 minutos, Sneijder cobrou uma
falta contestada pelos espanhóis com efeito. Casillas saiu mal e trombou
com Van Persie, deixando a bola para De Vrij empurrar para dentro na
segunda trave. Um gol anulado de David Silva, na sequência, foi o último
suspiro espanhol na partida.
Aos
27 minutos, Casillas se apropriou dos fantasmas holandeses ao se
mostrar estabanado novamente. Van Persie tomou a bola do goleiro e
completou para o gol vazio. Com Fabregas no lugar de David Silva, o dia
de terror espanhol continuou. Robben arrancou em velocidade aos 34
diante de um desesperado Sergio Ramos, teve calma para fazer uma volta
com a bola nos pés dentro da área e estufar a rede de novo.
Robben
poderia ter marcado mais gols – se Casillas não se recuperasse com
algumas boas defesas nos minutos finais da partida. Àquela altura, o
público verde, amarelo e laranja já se dava por satisfeito,
divertindo-se com o movimento de “ola” e gritos de “olé”. Até os
torcedores holandeses aderiram ao coro criado pelos brasileiros para
insultar Diego Costa – um dos muitos espanhóis que ganharam um grande
motivo para começar a temer as crendices de sexta-feira 13.
Edson Ruiz/Gazeta Press.
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