Júlio César defendeu duas cobranças chilenas na disputa por pênaltis no Mineirão - Sergio Barzaghi/Gazeta Press.
O técnico Luiz Felipe Scolari avisava, antes mesmo da Copa do Mundo,
que não gostaria de enfrentar o Chile no mata-mata. A preocupação foi
justificada no início da tarde deste sábado, no Mineirão.
A Seleção
Brasileira só superou o rival sul-americano por 3 a 2 na disputa de
pênaltis após um empate por 1 a 1 no tempo regulamentar da partida. O
goleiro Júlio César, vilão no Mundial passado, defendeu as cobranças de
Pinilla e Alexis Sánchez e viu Jara chutar na trave. Pelo Brasil,
Willian bateu para fora e Hulk desperdiçou, mas David Luiz, Marcelo e
Neymar converteram.
Ofensiva no início do
dramático confronto em Belo Horizonte, a Seleção abriu o placar com o
zagueiro David Luiz, após cobrança de escanteio de Neymar. Permitiu o
empate do Chile ainda no primeiro tempo, quando o atacante Sánchez tirou
proveito de uma bobeada do esforçado Hulk. Nos minutos que se seguiram
com a bola rolando, o time foi pouco criativo e ainda sofreu alguns
sustos, como em um chute no travessão, de Pinilla, a um minuto dos
pênaltis.
Ainda que sofrido, o resultado ampliou o retrospecto favorável do Brasil
sobre o Chile em Copas do Mundo. Antes, o time nacional havia vencido
por 4 a 2 nas semifinais de 1962, na casa do oponente, com uma grande
atuação de Garrincha (autor de dois gols, assim como Vavá). Os outros
dois confrontos também foram válidos por oitavas de final – 4 a 1 em
1998, com César Sampaio e Ronaldo anotando duas vezes cada, e 3 a 0 no
Mundial passado, através de Robinho, Juan e Luis Fabiano.
Superado o seu duelo mais difícil com o Chile, a Seleção Brasileira
terá quase uma semana para se recuperar tecnicamente para as quartas de
final. O encontro com a Colômbia, que eliminou o Uruguai no
Maracanã, será apenas na próxima sexta-feira, às 17 horas (de Brasília),
no Castelão.
O jogo – Nem
parecia que os jogadores brasileiros e chilenos eram adversários no
túnel de acesso ao gramado do Mineirão. Companheiros de Barcelona, os
atacantes Neymar e Alexis Sánchez se abraçaram e conversaram
amistosamente, com sorrisos e afagos, à espera de a partida começar. O
lateral direito Daniel Alves fez questão de se juntar aos dois.
Em
campo, tudo mudou. As hostilidades entre brasileiros e chilenos
começaram nas arquibancadas, com vaias para trechos das execuções dos
hinos nacionais dos dois países. E continuaram já nos primeiros minutos
de jogo, quando Fernandinho cometeu uma falta dura em Aránguiz, que
revidou em Neymar.
O Chile tentou aproveitar aquela empolgação
inicial para atacar o Brasil. A iniciativa durou pouco. Depois que
Marcelo deu um bom chute de fora da área, que quase acertou a meta aos
cinco minutos, os donos da casa passaram a controlar as ações da
partida. Principalmente pelo lado esquerdo, onde Neymar e Hulk se
revezavam nas arrancadas em velocidade.
O Brasil era mais
perigoso, contudo, nas jogadas de bola parada. Foi assim que abriu o
placar. Aos 18 minutos, Neymar cobrou escanteio na área do Chile. A
dupla de zaga brasileira, então, tirou vantagem da baixa estatura
adversária para aparecer com destaque. Thiago Silva desviou o cruzamento
com a cabeça, e David Luiz disputou com a coxa com Jara para empurrar a
bola para dentro.
Com 1 a 0 no placar, o Brasil se sentiu
confortável para permanecer no setor ofensivo, envolvendo o Chile –
apesar de Oscar, Daniel Alves e quem mais que atuasse pela direita
participarem pouco da partida. Só um erro do time de Luiz Felipe Scolari
seria capaz de reanimar os chilenos naquele momento. E foi o que
aconteceu.
Aos 32 minutos, Marcelo cobrou um lateral no campo de
defesa para Hulk, que dominou de maneira displicente. Vargas tirou
proveito para fazer o desarme e acionar Sánchez dentro da área. O amigo
de Neymar e Daniel Alves dominou com tranquilidade e finalizou cruzado,
sem tanta força, para superar Júlio César e empatar o jogo.
O gol
do Chile silenciou momentaneamente a torcida brasileira e entusiasmou a
visitante. No gramado, os jogadores chilenos redobraram a rispidez nas
disputas de bola e motivaram Neymar a fazer acrobacias a cada falta
sofrida, para irritação de Felipão com a arbitragem. Nem mesmo a pressão
que o Brasil esboçou no final do primeiro tempo foi suficiente para
acalmar o treinador.
Sánchez marcou para o Chile depois de erro de Hulk no primeiro tempo, mas perdeu pênalti mais tarde - AFP.
Aos
35, Neymar quase marcou um gol de cabeça em cruzamento de Oscar, que
desviou na defesa chilena. Três minutos depois, o astro brasileiro
recebeu um lançamento longo, brigou com três marcadores, e a bola sobrou
para Fred concluir para o alto. Daniel Alves também perdeu a timidez e
chutou de longe, fazendo Bravo espalmar para cima do travessão. Na
defesa, no entanto, a Seleção dava novos sinais de desatenção.
Os
sustos sofridos no primeiro tempo claramente incomodaram os comandados
de Felipão. Neymar chutou a bola para longe quando a partida foi para o
intervalo. No vestiário, o astro deixou de lado as chuteiras douradas e
milionárias que ganhou de sua fornecedora de material esportivo para
calçar o mesmo modelo utilizado na fase de grupos da Copa do Mundo.
Felipão, entretanto, esperou para mexer na sua formação.
O
posicionamento do Brasil ao menos foi outro no segundo tempo. Percebendo
que o seu time era deficiente no lado direito do ataque, Felipão mandou
Hulk atuar mais por ali. Aos nove minutos, a ordem quase acabou
premiada com um gol. O atacante dominou a bola com o braço e bateu de
joelho para a rede, porém o árbitro inglês Howard Webb viu a
irregularidade e interrompeu a festa que os brasileiros já faziam. “Vá
tomar no...”, berrou o jogador, revoltado.
Jorge Sampaoli, o
técnico argentino do Chile, resolveu entrar em ação naquele instante.
Substituiu Vargas por Gutiérrez. Felipão não ficou atrás. Escolheu Jô,
atuando em casa por ser atleta do Atlético-MG, para ocupar a vaga de um
contestado Fred, mineiro de Teófilo Otoni e ex-jogador do Cruzeiro. A
torcida até se alegrou com a mudança, embora tenha se assustado em
seguida. Aos 18, Aránguiz bateu forte após cruzamento rasteiro da
direita, e Júlio César fez grande defesa para salvar o Brasil.
Muito
nervosa, a Seleção começou a oferecer cada vez mais espaços para o
Chile atacar. Felipão ainda recorreu a Ramires no lugar de Fernandinho,
que mancava em campo. Outros jogadores também pareciam com problemas,
porém técnicos, como Daniel Alves. Jô foi mais um a falhar, aos 28
minutos, quando furou um cruzamento de Hulk e enervou Felipão.
Alguns
torcedores até tentaram fazer com que a apatia da Seleção Brasileira
não se refletisse nas arquibancadas do Mineirão. “Levanta! Levanta!
Levanta!”, berraram, para aqueles que estavam sentados, inertes. A
maioria só se levantou mesmo aos 38, com uma boa jogada de Hulk, que
parou em Bravo. De fato, as razões para alegria eram poucas. Os atletas
brasileiros aparentaram alívio com o fim do segundo tempo.
A ordem
era mudar completamente de postura na prorrogação. Hulk demonstrou que
queria que fosse assim ao correr o campo inteiro com a bola em sua
primeira jogada, ser derrubado perto da área e brandir os braços para
chamar o público para o jogo. A torcida correspondeu, porém os seus
companheiros já não tinham o mesmo vigor físico àquela altura do jogo.
No
último tempo da partida com bola rolando, Felipão optou por dar fôlego à
equipe brasileira com Willian no posto de Oscar. O Chile, também
desgastado, já queria os pênaltis. Medel se jogou em campo e só foi
substituído por Rojas depois que a maca entrou para retirá-lo. Em
seguida, Pinilla e Gutiérrez ficaram caídos durante o tempo que puderam.
“Timinho! Timinho! Timinho!”, reagiram os torcedores.
Quem tinha a
missão de não se apequenar no Mineirão era a Seleção Brasileira. O
drama já fazia o público ter de mostrar a sua crença aos jogadores antes
da decisão por pênaltis: “Eu acredito! Eu acredito! Eu acredito!”. Era
mesmo necessário ter fé. Aos 15 minutos, Pinilla dominou bem a bola,
girou diante de Thiago Silva e soltou o pé. Só não virou o jogo para o
Chile naquele mesmo instante porque acertou o travessão.
David Luiz e Neymar converteram suas cobranças de pênalti contra o Chile (Foto: Washington Alves) - Gazeta Press
A tensão
era tamanha que Júlio César chorou antes da disputa de pênaltis. Parecia
prever que seria decisivo, defendendo as cobranças de Pinilla e
Sánchez, vendo Jara chutar na trave e tendo a sua grande e sonhada
redenção em uma Copa do Mundo. Pelo Brasil, Willian bateu para fora e
Hulk parou em Bravo, porém David Luiz, Marcelo e Neymar converteram para
sacramentar a suada classificação e ir às lágrimas com a extasiada
torcida.
Helder Júnior, enviado especial Belo Horizonte (MG).
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